quinta-feira, 9 de abril de 2009

Quem é mais sentimental que eu?

Mais uma vez você não me ligou.
Mais que isso. Mais uma vez eu esperei. E esperei tendo a certeza de que você não ia ligar, mas com um fundinho de esperança que, vira e mexe, me incomodava, dizendo "ai, calma, vai ver o curso dele ainda não acabou. Poxa, são só onze horas da noite. Quem sabe ele não está vindo, pode até fazer uma surpresa".
Ai, que vozinha chata essa, tirando minha concentração e me fazendo checar ligações e mensagens perdidas de cinco em cinco minutos. Fazendo com que meu pensamento racional de "ele não vai ligar, sua idiota, conforme-se e entenda: nada a ver você ter esperanças com esse ai, nunca vai dar certo. Cede e vai viajar com o bonitinho que dá mole pra você todo dia, que fica no seu pé. Vai, sua boba, arruma a mala e fala que aquele trabalho SUPER importante que você tinha que fazer, pôde ser adiado. Vai, se diverte, faz tudo que você tem vontade de fazer e desencana, porque ele simplesmente NÃO VAI TE LIGAR."
Mas ai aquela merda de esperança me diz que não, que é melhor eu ficar, que eu posso me arrepender de perder a ligação ou, pior ainda, atender à ligação e ter que dizer "não".
Eu decido ficar, esperar pra ver se não vai ligar mesmo, pra não me arrepender. Mas eu sei que você não vai ligar, eu sei.
A sua não-ligação, a sua pose de "estar nem ai" e me mostrar que eu estou indo rápido demais, com muita sede ao pote e que, talvez, você seja mesmo como o Fausto e eu seja mesmo como a Gretchen. Mas eu não sou como a Gretchen. A Gretchen era esperta, não aceitava esmolas e jamais esperaria uma ligação. Gretchen não esperou. Por mais que doece, ela não aceitou o abraço frio do Fausto. O abraço de quem não ama mais e de quem não quer viver com ela, não quer ter nada com ela. Um alguém que se sujeita a um abraço falso, repleto de obrigações só porque é orgulhoso demais pra perder. Só porque não sabe o que pode perder de verdade. Não sabe se perder é só perder o que já se tem ou se perder é perder também o que se pode conquistar e o que pode vir a ser a melhor coisa da vida. Pelo sim, pelo não, melhor não arriscar. A Gretchen sabia, assim como eu sei. Mas a Gretchen era corajosa o suficiente pra dizer "não" e dar um basta.
O seu email é como o abraço frio de Fausto, é uma tentativa de manter, mas sem muita vontade, sem paixão, frio. E eu sei que é frio, eu sei que não é de verdade, mas eu não consigo. Talvez eu imagine que você ainda vá me ligar e que eu vou me arrepender se não tiver esperado.
Mas esperar pela terceira vez? E lá vem todos os meus amigos me dizendo "deixa disso, para com isso, manda o menino à merda, vai ser feliz com quem quer você de fato. Você nunca foi disso, sempre foi de mandar à merda. Só se deixou sofrer uma vez e sofreu com todas as letras da palavra, mas hoje não mais, você não se deixa mais. Para, vai viajar, esquece, não pode ser tão difícil."
Mas é, é muito difícil. Eu não sei o porque, mas eu sei que é muito difícil. E o mais engraçado é que eu, talvez, titubeasse se você me ligasse e talvez arrumasse uma boa desculpa, fingindo que me importo com a possibilidade de ter dificuldades em acordar amanhã cedo e que não posso sair ou voltar muito tarde, dizendo que não posso dormir fora. Dizendo, nas entrelinhas, que não vou passar a noite com você. Não porque não posso, não porque não quero, mas porque tenho medo. Porque assim como eu sei que você não vai me ligar hoje, sei também que você não vai me ligar no dia seguinte e que o nosso relacionamento não vai ter futuro algum. E talvez, se você me ligasse agora, eu nem atendesse mesmo, pensando que "ah, agora, quase meia noite, você me liga, né? Bonitão, perdeu!" e aii eu riria pro celular, como quem rí da cara do bobo que achou mesmo que eu esperaria até às 23:52 de roupa, sem coragem de colocar o pijama, por pensar que, se você ligasse, eu teria que me arrumar toda de novo e daria um super trabalhão ter que escolher outra roupa perfeita.
É, pode ser que eu atendesse, mas fizesse voz de sono, aquela voz de quem não está nem ai e até esqueceu que você iria ligar se quisesse mesmo me ver. Uma voz de surpresa, que diz "nossa, você me ligando?? ah é, tinha esquecido que você estaria por aqui!" e que sairia, praticamente, de pijama, só pra mostrar que tinha esquecido de fato e que não está nem aí.
Mas nunca saberemos qual seria minha reação porque, afinal, você não vai me ligar MESMO. E ai eu penso que talvez nem queira que você ligue. Afinal, não quero ser iludida, não quero que você me ligue só porque está à toa por São Paulo e quer dar uns amassos em alguém.
Mas, nossa, você não vai me ligar nem se for só pra dar uns amassos? Então você não gosta de mim mesmo, ou então gosta e gosta tanto que não vai me ligar só por isso. Ou você tem outra em São Paulo, que não more longe do seu curso e que se disponha a ir até você, sem trabalho nenhum, sem dor de cabeça, só uns amassos. Ou talvez você tenha outra que more longe pra caralho do seu curso, mas que você gosta tanto, mas tanto, que vai se fuder pra ir até ela só pra conversar, talvez nem ganhar um carinho que fosse, mas vai valer a pena.
É, você me disse uma vez que não valia a pena. E eu, idiota, disse que, pra mim, valia. Na verdade, não foi idiota não, foi verdadeiro. Aliás, eu acho que preciso parar de achar que os meus sentimentos e o modo com os expresso são idiotas. Afinal, pra mim, valia MESMO e eu teria dado tudo aquela noite pra te ver nem que fosse 10 minutinhos que passariam mais rápido que um piscar de olhos. E acho que é aí que nós somos tão diferentes. Eu quero esse relacionamento pra valer. Eu quero 10 minutos ou 10 anos. Eu quero ver aonde vai dar, eu quero conhecer você por inteiro, fisica e psicologicamente. Quero saber o que você pensa, o que você sente, do que você gosta, quais seus pontos fracos e sensíveis e quero ter você, no sentido mais leve a, ao mesmo tempo, mais possessivo do mundo.
Mas eu não posso ter. Eu só posso ter umas conversas xoxas no msn, falta de respostas concretas, indecisão e medo. Eu só posso ter você sabendo que não o tenho por completo e só posso me doar, sabendo que não conseguirei oferecer tudo o que tenho pra dar. Eu só posso ter um pseudo-relacionamento banhado a pensamentos erroneos e ilusórios de que "é só o começo" e "as coisas ainda vão se ajeitar, a gente vai se entender e vai ser tudo lindo".
Doce ilusão.
Eu não posso amar você pelo simples fato de você não me deixar te amar. E eu não posso mais viver assim.
Eu não posso te ter apenas nos momentos em que você está trabalhando e matando seu tempo no msn. Eu não posso te ter só quando o seu caminho já era São Paulo mesmo (e nem assim, na maioria das vezes). Eu não posso te ter sem conseguir deixar passar dos amassos com roupa por saber, e só por saber, que o nosso próximo encontro pode ser que nem aconteça e que aquilo vai ficar por aquilo mesmo. Eu não posso te ter só quando convir pra mim e quando for cômodo pra você. Estou cansada de tratar o relacionamento como um jogo racional e não ligar só porque você não ligou e fingir que não me importo só porque é assim que chamo sua atenção. Eu não posso ficar fantasiando que você não se entrega por ter muito medo e esse medo ser fruto de culpa minha, de falha minha. Eu não posso mais me culpar pela sua falta de atitude. Afinal, já dizia meu pai que "quem quer, faz, dá um jeito e quem não quer, arruma uma desculpa".
Você não me ligou hoje. E não foi porque acabou a bateria do seu celular ou porque o curso demorou mais do que deveria. Você não veio me ver hoje. E não foi porque era muito longe ou porque já estava muito tarde.
Assim como hoje, você não vai me ligar amanhã, você não vai me ver amanhã.
Quem quer, dá um jeito. Eu quero e tanto quero que já tinha dado um jeito de ir até aí. Já tinha tudo programadinho. Dois dias, com carona e tudo o mais.
Mas eu não vou mais e eu não vou mais esperar a sua ligação. Eu vou viajar. Eu vou viajar com quem quer tanto, mas tanto, a minha companhia que expulsou o melhor amigo do carro pra que pudesse caber as minhas malas.
E eu sei que essa viagem vai ser uma merda. E eu sei que eu vou ter que falar "não" pra um menino lindo, amoroso, que gosta de mim e com quem eu tenho uma história por continuar. E negar vai doer no coração e no ego. Mas eu vou dizer "não", porque eu não quero que ele tenha que suportar o meu abraço frio e o meu medo de perder. Não quero que ele deixe de viajar com quem quer muito viajar com ele por uma ligação que nunca vai acontecer.
Hoje eu vou tomar coragem e te dizer que eu sei que você não gosta de mim. E que eu não sei qual é o seu problema. Se você ainda não sabe, se tem medo de dizer ou é só medo de perder uma possível-alguma-coisa.
Eu sei reconhecer quem me quer e você não se enquadra nesse perfil. E eu só não me deixei dizer isso antes porque a rejeição dói e é uma merda.
Eu não quero perder você. Mas eu não te tenho pra te perder.
Eu gosto de você. Mas eu gosto muito mais de mim.

Hoje é a minha vez de dizer "me esquece, não me procura mais". E eu ficaria MUITO feliz se você imprimisse esse email e jogasse na minha cara todas as besteiras que eu escrevi e que tentasse me convencer de que não, não é assim, que ainda tem um jeito e que eu estava completamente errada quando julguei todas as tuas desculpas esfarrapadas e que eu me enganei ao interpretar a sua ausência e indiferença como simples falta de interesse, como um simples não-querer da sua parte.
Mas, mais uma vez, eu sei que você não vai fazer nada disso. E não por ser muito orgulhoso pra correr atrás. E não por ficar em estado de choque. E não por ser muita cobrança de uma vez só. Você não vai, porque você não quer.
E isso é o que mais me dói.

PS: esse email foi escrito com a trilha sonora de The smiths – I know it’s over
PS2: eu ainda me odeio por querer muito que você estivesse aqui comigo agora. Pra que eu trocasse o teclado pelos seus dedos e The Smiths pela sua voz.
PS3: Queria que não acabasse por aqui, mas there’s nothing else I can do.

A.

Um comentário:

Anônimo disse...

Garota, você é uma artista!
Parabéns :-)

Adoro textos carregados com tanto sentimento...

Bjs, Robson.