domingo, 18 de abril de 2010

Amor de todos

E lendo esses versos, entendo que não sou só eu, que não estou sozinha.
Escreveu como se tirasse do meu peito todas as palavras, todas as vírgulas, o ponto final. Mas eram experiências dele próprio. E de outros. Por mais que iguais, não me pertenciam.
Não sou só eu, não estou sozinha. O amor é um (sentimento) sofrimento universal, não é privilégio meu.

"Ah, fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, noites afora, faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suicídios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia, não conseguirás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dele, em algum cheiro estranho o cheiro preciso dele." Caio Fernando Abreu

A.

domingo, 11 de abril de 2010

Fechando e abrindo a geladeira a noite inteira

Numa noite dessas em que recostar a cabeça no travesseiro é o mesmo que se lançar à guilhotina, preferi não dormir.

Os pensamentos a seu respeito me atormentavam e para qualquer lugar que fosse, longe ou perto, me acompanhavam.

Perturbada, passei a noite subindo e descendo as escadas, variando entre meu quarto e a cozinha e então, num gesto desesperado de colocar para fora tudo aquilo que me enchia de angústia e dor, num pedaço de papel toalha, com a caneta de marcar o que precisa comprar no supermercado, escrevi:

“E eu, que por medo evitava o seu sorriso, me perdi no teu olhar.
Em ambas as situações, vamos olhar para trás e lembrar deste momento. Dessa conversa. Eu vou querer nunca ter falado isso, ter deixado rolar. Você vai querer ter dito alguma coisa, interferido, não ter deixado acabar.
E nós dois vamos seguir nossas vidas mesquinhas e completamente normais sem nunca amar de novo como amamos um ao outro e sempre se perguntando se se nos encontrássemos pela quarta vez daria certo.
Mas você jamais abandonaria sua cidadezinha praiana e eu jamais a cidade grande.
Saberíamos que encontramos o amor das nossas vidas, mas que o deixamos passar por medo, insegurança e egoísmo.
Eu vou sempre procurar um marido mais bonito, que me dê filhos loiros e um apartamento em Nova York e você vai sempre procurar a mulher que cuide da padaria enquanto você surfa.
E de tanto procurarmos a nós mesmos em outras pessoas, vamos nos perder. Para sempre.”

A.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Eu ontem, olhos de hoje. Eu hoje, olhos de amanhã.


Fiquei um tempo afastada dos teclados do computador. Minto. Na verdade tenho um longo e bem direto contato com eles todos os dias, mas eles têm estado bem longe do meu coração e dos meus pensamentos.

Acho que o que se passa na minha cabeça e os sentimentos que andam comigo são tão complexos, confusos e nublados que era praticamente impossível transformá-los em palavras. O meu eu interior pode ser comparado, atualmente, ao tempo que está fazendo em São Paulo há mais ou menos uma semana. As nuvens incobrem o céu o dia todo, mas em pequenos e raros momentos é possível enxergar alguns pontos azuis na imensidão do horizonte e chega-se, inclusive, a pensar que o sol vai sair de novo, tornando o dia dia de novo, claro, límpido. Mas, como já mensionado antes, eram só mesmo alguns pontos, pequenos pontos, e não aconteciam a todo momento.

Tenho achado mais graça nas apresentações de power point que tenho que fazer para os trabalhos de faculdade do que a maioria das conversas com amigos. Acho todo mundo muito criança e percebo com muito mais clareza a futilidade com a qual as pessoas levam suas vidas. Meus melhores amigos nesses tempos tórridos e estranhos tem sido os livros. E não sei o que isso significa. Acho que estou crescendo. De novo. A primeira vez que de fato tive essa sensação foi há, aproximadamente, cinco anos. Voltava de intercâmbio e, numa confusão que não tenho como descrever, no alto dos meus apenas 16 anos de idade, sabia que estava ficando diferente. Olhava para tudo com outros olhos, os mesmo olhos, mas outros. Era estranho. Ao entrar no meu velho quarto, apenas pouco mais de seis meses depois de partir, não reconhecia a pessoa que gostava daquele rosa gritante nas paredes, que vestia àquelas roupas presentes no armário, que tinha bichinhos de pelúcia e cartinha de amigos espalhados pelo mural. Amigos. Esses não conseguiam entender. Eu também não conseguia e, consequentemente, não sabia explicar. Poderia até ter tentado. Seria em vão. Me afastei.

Não tinha mais paciência com aquelas mesmas pessoas, não ria mais daquelas mesmas piadas, não fazia questão de nada. Crise, crise e mais crise. Foi assim durante um ano inteiro. Com o corpo num país e o coração no outro. Quando confusa, não sabia o porquê. Hoje sei: estava crescendo.

Amadurecer é difícil. Mesmo porque, não fazemos isso ao mesmo tempo que nossos amigos, irmãos e namorados. Estamos mudando, não nos reconhecemos mais. Muito menos a eles.

Acho que passo por essa fase novamente. Não tenho mais paciência para comportamento adolescente e jovem demais. Nunca fui uma pessoa de balada. Nunca gostei de sair com o intuito de ver gente bêbada beijando na boca de outros cidadãos bêbados dos quais não sabem nem o nome, dançando uma música que, na maioria das vezes, não faz o menor sentido e tendo que berrar para conseguir fazer algum comentário até desistir e ficar em silêncio. Até o fim da noite. Os meus programas favoritos sempre foram ir à casa de algum amigo, me dar ao luxo de comer e beber à vontade e desfrutar de uma boa, longa e, de preferência, filosófica conversa à luz do luar e ao som de algo bem calmo, tranquilo e que não estivesse na moda.

É óbvio que ser assim aos 16 anos de idade era o mesmo, ou até pior, que ser um ET. Assim sendo, guardava para mim e para mim apenas essa minha verdadeira identidade. Me forçava a sair e fingia que estava gostando. Mas não tinha jeito. Barzinho, tudo bem, adorava. Ainda gosto, acho válido. Pessoas novas, grande possibilidade de conhecer alguém, mas com a possibilidade de tomar algo sentado, conversando e ouvindo algo a que se pode chamar de música. Mas balada não. Não dava. Sempre era a primeira a sentar no sofazinho com a desculpa de dor nos pés por causa do salto alto demais para quem nunca os usa ou de estar bêbada demais (o que era sempre mentira). Tá aí, nunca gostei de ficar bêbada demais. Gosto de caipirinha de saquê (com lima) por causa do gosto e admiro um bom vinho. Cerveja só quando está muito calor e de preferência Heineken, nada muito doce. Fora isso, tomar àqueles líquidos a quem têm coragem de chamar “vodka” com algum nome de mulher e a preço de banana só para “ficar muito louco” e ainda por cima acordar no dia seguinte como se tivesse sido atropelada por um caminhão (duas vezes e em cheio) não era muito a minha praia. Continua não sendo.

Ser diferente de todos os meus amigos e, aparentemente, de todos os cidadãos comuns da minha idade me incomodava profundamente. Mas era algo a que eu não conseguia controlar. Inventava, então, desculpas como “minha mãe não deixa”, “estou sem grana” ou a famosa “moro muito longe” e até “acordo muito cedo” e ia dormir, metade frustrada, metade aliviada.

Acho que hoje (e hoje me refiro ao dia de hoje. Mesmo. Não sei de amanhã.) consigo me entender. Talvez não consiga entender a mim mesma na atual conjuntura, na nova fase. Mas entendo o “eu” de alguns anos atrás. E isso já é um belo começo.

Mas voltando ao começo do texto e o, a princípio, foco principal: acho que estou mudando. De novo. E quem sabe daqui a uns 5 anos eu não venha a discorrer sobre esse fato começando com “no alto de meus apenas 20 anos de idades...”. Quem sabe.

A.