domingo, 11 de abril de 2010

Fechando e abrindo a geladeira a noite inteira

Numa noite dessas em que recostar a cabeça no travesseiro é o mesmo que se lançar à guilhotina, preferi não dormir.

Os pensamentos a seu respeito me atormentavam e para qualquer lugar que fosse, longe ou perto, me acompanhavam.

Perturbada, passei a noite subindo e descendo as escadas, variando entre meu quarto e a cozinha e então, num gesto desesperado de colocar para fora tudo aquilo que me enchia de angústia e dor, num pedaço de papel toalha, com a caneta de marcar o que precisa comprar no supermercado, escrevi:

“E eu, que por medo evitava o seu sorriso, me perdi no teu olhar.
Em ambas as situações, vamos olhar para trás e lembrar deste momento. Dessa conversa. Eu vou querer nunca ter falado isso, ter deixado rolar. Você vai querer ter dito alguma coisa, interferido, não ter deixado acabar.
E nós dois vamos seguir nossas vidas mesquinhas e completamente normais sem nunca amar de novo como amamos um ao outro e sempre se perguntando se se nos encontrássemos pela quarta vez daria certo.
Mas você jamais abandonaria sua cidadezinha praiana e eu jamais a cidade grande.
Saberíamos que encontramos o amor das nossas vidas, mas que o deixamos passar por medo, insegurança e egoísmo.
Eu vou sempre procurar um marido mais bonito, que me dê filhos loiros e um apartamento em Nova York e você vai sempre procurar a mulher que cuide da padaria enquanto você surfa.
E de tanto procurarmos a nós mesmos em outras pessoas, vamos nos perder. Para sempre.”

A.

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