sábado, 6 de março de 2010

Ainda não acabou

Arrumei uma desculpa pra ver você de novo. Inventei uma reportagem, inventei um tema. Fucei todos os lugares em que poderia descobrir coisas novas a seu respeito e tomei coragem para falar com você. O computador sempre faz as vezes de mediador, principalmente quando não temos cara suficiente para encarar a voz ou o olhar. Lá vou eu, começo a conversa com um “é de você mesmo que eu preciso”. A belíssima frase foi proferida com o intuito de pedir uma ajuda profissional. Mas eu e você sabemos que o significado dessas palavras jogadas sem a menor inocência é muito maior e mais complexo que isso.

Ao contrário do que imaginei, você até que foi bem solícito. Ao mesmo tempo, também ao contrário do que imaginei, você não fez nenhuma brincadeirinha, não soltou nenhuma indireta e não me deixou super esperançosa e boba. Simplesmente manteve o foco no profissional e no que poderia me ajudar. Nada mais justo, pois afinal (teoricamente) era isso mesmo que eu queria. E então me pego imaginando se você está mesmo apaixonado por essa menina. Se dessa vez alguém fisgou o seu coração de verdade. E isso me preocupa. Ilusoriamente, sempre me prendo à teoria da minha avó de que os homens conhecem os amores de suas vidas aos 19 anos de idade. Diz ela que se um homem se apaixona nessa idade, é para a vida toda. Foi aos 19 anos que você se apaixonou por mim e esse fato sempre me conforta de uma maneira que nem consigo explicar. É como se pudesse passar 500 mulheres na sua vida, mas eu fui a dos 19 e estarei sempre lá. Pura ilusão. Aquele tipo de mentira que insistimos em acreditar.

Talvez você também pense em mim. Afinal, me respondeu já, quase que horas depois, quando que poderemos nos ver, quando que dá para gravar, já com horário e tudo o mais. Achei que você fosse me ligar. Talvez você também tenha medo de ouvir minha voz. Talvez não esteja nem aí mesmo.

Agora é fato: vou te ver de novo. E não vai ser por acaso, não vai ter uma expectativa avassaladora de ficar olhando para a porta imaginando se você vem ou não. Você estará lá e cabe a mim (e ao interesse da minha matéria) ir até você ou não. Eu vou e imagino direitinho como será (mesmo sabendo que as chances de acontecer dessa maneira são praticamente nulas):

Chegarei antes que você ou bem depois. Vou linda. Com a roupa que mais me emagrece, com o cabelo que mais me favorece e com o sapato que me faz andar mais bonito. Vou passar horas me arrumando de uma maneira que faça parecer com que nem me preocupei, que sou linda assim mesmo, que acordo assim. (tolices que toda mulher faz). Vou ser uma pessoa simpática, compreensiva, interessada e engraçada. Tudo isso com um quê sexy no olhar. Meu maior medo é a menina estar lá. Pior: meu maior medo é você se mostrar extremamente apaixonado por ela. Se isso acontecer, é ir pro banheiro cortar os pulsos e chorar. Não, calma. Se isso acontecer, é continuar sendo a pessoa mais simpática, interessante e legal do universo.

Aí então, depois da entrevista, depois de conhecer seus novos amigos e me mostrar a pessoa mais interessada do mundo no esporte que você pratica, queria que você me chamasse para tomar um café ou sei lá, almoçar, jantar, conversar, dar uma volta no shopping. Qualquer coisa que envolva só eu e você. Tá, contando que isso não vai acontecer, pretendo só te entregar o livro que comprei e dizer “ah, só mais uma coisa...Comprei esse livro para você há um tempo atrás e não tive a oportunidade de te entregar. Bom, sei lá, se você quiser, é seu” ou algo do tipo. E então você vai aceitar e eu espero que coloque na sua cabeceira, que leia, que ame o seu conteúdo e que lembre de mim a cada vez que olhar para ele, a cada página que você devorará.

Não sei o que vai acontecer. Não sei se tudo isso é só fantasia. Não sei o que você sente ou deixa de sentir. Só sei que eu ainda amo você e isso é só mais uma tentativa de me manter perto, presente na sua vida. De não deixar você me esquecer, de não me deixar te esquecer.

Só sei que eu quero te dizer mesmo, depois de um tchau com um olhar 43 bem menos brega e mais demorado, é: “A gente ainda vai casar. Pode ser que a gente tenha 90 anos, pode ser nosso sétimo casamento. Não importa. Mas a gente ainda vai casar. Eu não vou morrer antes de casar com você e você, por favor, tente não morrer também.”, virar as costas e ir embora, sabendo que deixei em você uma marca como deixei das outras vezes e saber que a minha certeza sempre certa (com a qual você tanto se impressionava) vai martelar na sua cabeça por um bom tempo. Até que a vida se prontifique a arrumar uma desculpa para nos encontrarmos de novo.

A.

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