domingo, 7 de março de 2010

Quis nunca te ganhar

Como faz para tirar você dos meus favoritos no e-mail? Toda vez que entro para checar informações importantes, a sua foto tosca brincando de arco e flexa aparece do lado das suas atualizações, que contém, basicamente, com quem você jogou poker pelo msn, o que você escreveu no seu nick e coisas fúteis que não fariam a menor diferença se não saltassem como uma propaganda chata, daquelas que você tem que ficar correndo atrás do “x” com a opção de fechar e acaba desistindo, fechando a página.

Meu dia pode estar ótimo ou péssimo e lá vem você invadir minhas memórias muitas vezes já adormecidas, me fazendo reviver aquele dia do carro, o último dia em que nos vimos, em que a minha última frase foi proferida com palavras de baixo calão: “agora fudeu”, representando o meu desespero por ter me re-apaixonado (se é que isso existe) de vez por você e o medo que isso me causava. E as consequências que eu sabia que viriam. E então, pensando em consequências, me lembro daquele último dia no cinema, em que deitei no seu peito e, enquanto você fazia carinho no meu cabelo, fiquei imaginando que era bem provável que aquilo não se repetisse mais. E em meio a um filme que não me causava interesse algum, quase chorei, sabendo que teria que aproveitar aquele momento ao máximo. Aproveitar o pouco que tinha de você ao máximo.

E minha mente volta àquele banco no shopping, em que ficamos umas 3 horas, chutando por baixo, só segurando nas mãos um do outro, como duas crianças sem graça que não sabem o que fazer. Foi aquele dia que você me pediu um beijo e eu demorei horrores para dá-lo, talvez nem o quisesse. E me arrependo de uma maneira inenarrável de não ter me atirado aos seus braços antes mesmo de você completar o pedido. Quanto tempo eu perdi com você! Cheguei atrasada ao nosso encontro porque fiquei uma meia hora no carro, com a cabeça recostada no volante, em sinal de desespero, sem saber o que fazia alí, que besteira estava cometendo, a quem estava enganando. Eu hesitei. Cheguei a pensar em arrumar uma desculpa, ligar e dizer que algo me impedira de ir ao seu encontro. Mas pensei no quanto você havia se locomovido para ir até mim e me entreguei a você. De novo.

Lembro do dia em que te chamei para tomar um café em casa. Na maneira como você me olhava e me elogiava e sabia o que eu queria. Me lembro de você me fazendo massagem e pedindo para relaxar. E me lembro também do tempo que demorei para me decidir, brincando com pedrinhas que não faziam o menor sentido, dizendo qual era a minha favorita. Aquele tipo de coisa vergonhosa que me dá calafrios quando me deparo com pedrinhas iguais. Você teve que insistir em me beijar. Eu não sabia se queria. Queria, mas não sabia o porquê. Você sempre foi um brinquedinho para mim. Sabia que te tinha nas mãos e o usava quando bem me interessava. Nunca admiti o quanto também era apaixonada por você.

Àquela imagem de você me dizendo ao ouvido “te amo, te amo, te amo” incessantemente e eu confusa e até desconfortável me atormenta. Acho que nunca te falei que te amava pessoalmente. Você nunca ouviu minha voz proferir essas palavras de tamanho significado. Sempre me limitei ao “eu também”. Tinha medo, não sei, não conseguia.

E a vez em que você me surpreendeu? Que apareceu quando disse que não apareceria e minha cara de surpresa foi mais desanimadora do que se fosse ao contrário? Não sei dizer o que se passou pela minha cabeça e então você me surpreendeu de novo, com um presente de dia dos namorados: um coração com braços e pernas e dizeres. Tudo o que eu mais odiava, a única coisa que eu realmente não queria ganhar. E fiquei imaginando o tempo que havia passado cortando coraçõezinhos de pelo menos umas 3 cartolinas vermelhas para enfeitar a enorme caixa que tinha feito com várias lembrancinhas para você. Fiquei com raiva por ter quase certeza de que era a sua mãe quem tinha escolhido o meu presente e nunca consegui olhar para aquele bicho com muito amor. Hoje me pergunto aonde é que ele foi parar e por que o joguei fora. Hoje, daria tudo para ganhar um presente seu, um papel de bala que fosse. E fico imaginando se você ainda tem os bichinhos, os papéis, as lembranças.

Quis te afastar de mim quando fiz intercâmbio. Quis que me esquecesse, que quisesse um outro alguém, que não mandasse e-mail, que não quisesse ouvir minha voz. Não te liguei. Nem ao menos pensei nessa possibilidade. Liguei para pessoas muito menos importantes que você e te decepcionei. Arranquei seu coração com a fúria de um leão faminto. Faminto pela vida e pelas experiências. Queria viver. Achava que em determinado momento encontraria alguém bem melhor que você. Alguém com quem eu fosse casar e viver para sempre. Hoje sonho com o nosso futuro improvável casamento.

Queria morrer quando seu perfume exagerado ficava impregnado nas minhas roupas e hoje caio em prantos quando descubro alguém com aquele cheiro que já saiu de linha, mas continua me atormentando.

Te achava meloso demais, possessivo demais e os planos que você fazia para nós me causava nó no estômago. Você queria viver na praia, surfando. Eu daria continuidade aos negócios da sua família, afinal não teria mercado para a minha área por aí. Teríamos muitos filhos e uma casinha nossa. Você queria que eu fizesse 18 anos logo para amarrar meu burro com o seu. Eu queria a cidade grande, conhecer o mundo, ser importante, bem sucedida e independente. Quanta diferença!

Não te culpo por ter me tratado tão mal. Afinal, fiz de tudo para te perder, para nem ao menos te ganhar. Tive que conquistar o que eu queria para descobrir que o que eu precisava esteve nas minhas mãos por muito tempo e eu joguei sabão, fiz escapar. Hoje mudaria todos os meus planos por você. Too late.

A.

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