“Ele tem um poder sobre mim que não sei explicar. Ele me desespera”. Foi assim que te defini para uma amiga hoje, como um alguém que consegue fazer de mim e comigo o que poucos, ou quase nenhum, conseguem. Não te entendo. Não entendo mais o que quer comigo. Essa sua bipolaridade, sua mania de dizer sim quando quer dizer não e vice-e-versa me confunde demasiadamente.
Hoje você veio falar comigo. De novo. E veio para desmarcar nosso compromisso. Aquele compromisso, o que eu inventei para poder te rever. E pronto, nosso reencontro vai ser adiado por, pelo menos, um mês. Às vezes tenho certeza de que é o próprio destino mudando todos os caminhos e brincando comigo quando tento controlá-lo. Mas, por mais incrível que pareça, não sei se acho isso bom ou ruim. Penso que talvez não seja mesmo a hora de eu te ver, cara a cara, e vejo nisso um pretexto para continarmos nos falando por mais esse mês.
Hoje você veio falar comigo. De novo. E veio para desmarcar nosso compromisso. Mas não foi só isso. Você fez questão de me explicar o porquê desse infortúnio. Veio me contar que sofreu um acidente, mas não foi só isso. Fez questão de citar que estava levando uma garota para jantar e que ela usava um sapato delicado na garupa de sua moto quando um carro fechou vocês, fazendo com que caíssem, sofressem um acidente. Fez questão de me acalmar, dizendo que a moto foi destruída, mas que você está bem e que a garota apenas sofreu uma pequena lesão no pé (por conta do tão delicado sapato) e que se sente culpado sem razão de sê-lo. Você abriu seu coração para mim. Quase que como amigo. Amigo que jamais será, amigo impossível de ser. Você me contou da garota e assim se referiu a ela: “garota”. Não consigo imaginar o porquê disso. Talvez quisesse mesmo que eu soubesse da existência de uma pessoa importante, pela qual você se preocupa, pela qual se locomoveu quilômetros e para a qual pagaria o jantar. Tudo bem. Eu já sabia. Você, mesmo que quisesse me machucar com isso, não poderia mais. Talvez eu até precisasse saber de você e não ter que ficar fuçando, como uma detetive em busca de provas, uma parte da sua vida que um dia me pertenceu.
Hoje você veio falar comigo. De novo. E veio desmarcar nosso compromisso. Mas não desistiu da conversa depois de cumprir sua obrigação de me avisar com antecedência. Ao mesmo tempo que te vejo me afastando e deixando claro certos assuntos e certos limites, te vejo brincando, te vejo interessado. Quer saber da minha vida, quer ouvir minhas histórias, parece torcer por mim. Você se mostra muito solícito, muito compreensivo e faz por mim favores que estão ao seu alcance. Também deixou muito explícito que gostaria que esse contato se tornasse constante e que se esforçará para remarcar nosso compromisso o mais breve possível. Talvez você só mantenha por mim um apreço e um respeito que, de fato, me é merecido. Talvez. Já entendi meu lugar nessa história toda, pelo menos por enquanto. Eu sei que aquela a quem você se referiu como “a garota” também é quem você chama de “amor” nos meios que você sabe que vejo. E, pela primeira vez, tudo bem.
Hoje você veio falar comigo. De novo. E veio desmarcar nosso compromisso. E então, depois de tentar entender se aquilo era bom ou ruim, depois de ter que suportar você me confessando a vida amorosa e depois de aproveitar e desfrutar de uma parte simpática e atensiosa sua da qual tenho tantas saudades, tive vontade de te dizer que gosto de ser sua amiga. Tá bom, sejamos claros: não sou sua amiga. Mas tive na ponta da língua o discurso que diz, basicamente, que gosto de você. Independente da intensidade desse “você”, que gosto de te ter por perto e de conversar com a sua pessoa. Hoje não importou tanto se estava mesmo compromissado, se não quer mesmo nada comigo e se não vamos nos ver no domingo para o qual estava me preparando. Hoje só importou a companhia agradável, as risadas, a conversa saudável. Hoje só importou você, e não o você que me desespera, mas o você que me conforta, que me acalma e me traz paz. Se eu tivesse que te descrever para alguma amiga agora, seria assim: “Ele tem um poder sobre mim que não sei explicar. Ele me faz querer ficar perto dele, independentemente do que esse ‘perto’ possa ou deva significar”.
A.
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